A recente decisão da 3ª Vara Federal de São José dos Campos marca um capítulo decisivo na disputa entre a Boeing e empresas brasileiras do setor aeroespacial, especialmente a Embraer. O juiz Renato Barth Pires autorizou a filial brasileira da fabricante norte-americana a contratar engenheiros formados no Brasil, incluindo profissionais oriundos de programas estratégicos como o mestrado profissional promovido em parceria entre Embraer e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Essa decisão ocorre em um cenário no qual a mão de obra especializada é escassa, cara e formada ao longo de mais de uma década de investimento contínuo. Assim, a disputa vai muito além de simples contratações: envolve soberania tecnológica, livre concorrência e o equilíbrio da indústria nacional.
Contexto da disputa judicial
Em 2023, associações brasileiras como a Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) e a AIAB (Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil) acionaram a Justiça. O objetivo era limitar a atuação da Boeing Brasil na contratação de engenheiros.
A alegação principal era que a companhia norte-americana estaria se beneficiando de conhecimento estratégico da Embraer, adquirido durante as negociações para compra da divisão de aviação comercial, que acabou não concretizada. Além disso, argumentava-se que a ação configurava concorrência predatória, prejudicando a indústria nacional e fragilizando a soberania.
As associações pediam que a Boeing fosse limitada a contratar apenas 6% do total de engenheiros de uma empresa brasileira por ano. Caso ultrapassasse esse índice, a multa sugerida seria de R$ 5 milhões por profissional excedente. Ainda, solicitavam que o cálculo incluísse engenheiros que tivessem migrado para a Boeing em até seis meses após deixar uma empresa do setor no Brasil.

Expansão da Boeing no Brasil
A decisão judicial ocorreu após a Boeing inaugurar, em outubro de 2023, seu primeiro Centro de Engenharia e Tecnologia na América Latina, localizado em São José dos Campos (SP), a mesma cidade onde está a sede da Embraer.
O centro se tornou um polo de atração para profissionais altamente qualificados. Conforme documentos do processo, quase 500 engenheiros foram contratados pela empresa, sendo cerca da metade oriundos da Embraer. Essa estratégia foi considerada pelo juiz como “política agressiva de contratações”, o que impactou diretamente a disponibilidade de mão de obra para projetos estratégicos brasileiros.
Argumentos do magistrado
O juiz Pires reconheceu que a retirada de engenheiros-chave gera desfalques e compromete o andamento de projetos, principalmente na área de defesa. Ele destacou que a formação de um profissional desse nível leva aproximadamente 15 anos e envolve investimentos públicos e privados significativos.
Entretanto, ele ponderou que a livre iniciativa e o direito ao trabalho devem ser respeitados. Segundo a decisão, impedir ou restringir contratações sem provas concretas de dano real à segurança nacional seria uma medida excessiva e incompatível com a ordem econômica prevista na Constituição.
Impacto para os engenheiros brasileiros
Para os profissionais, a decisão representa novas oportunidades de carreira e remuneração. Afinal, empresas internacionais como a Boeing oferecem pacotes salariais e benefícios que muitas vezes superam os praticados no mercado nacional.
Essa abertura pode gerar um efeito positivo para a qualificação técnica individual, mas levanta questionamentos sobre a capacidade da indústria nacional de reter talentos no longo prazo.
📌 Principais pontos para os profissionais do setor:
- 💼 Acesso a vagas de alto nível em empresas internacionais
- 💰 Potencial de aumento salarial e benefícios adicionais
- 🌎 Experiência global e participação em projetos internacionais
- ⚠ Risco de evasão de talentos estratégicos da indústria brasileira

Livre concorrência versus soberania nacional
O caso expõe um dilema clássico: até que ponto a livre concorrência deve prevalecer sobre preocupações ligadas à soberania tecnológica e à segurança nacional?
O juiz considerou que as provas apresentadas indicavam apenas um risco potencial, não um dano efetivo. Portanto, medidas restritivas não se justificariam naquele momento. Ele também mencionou que conflitos entre diferentes princípios devem ser solucionados com base em critérios jurídicos e não em visões políticas ou subjetivas.
Reação das entidades do setor
A Abimde e a AIAB anunciaram que estão avaliando a possibilidade de recorrer. Ambas consideram que a decisão pode abrir precedente perigoso para a indústria aeroespacial brasileira, especialmente no que se refere à transferência de conhecimento sensível para empresas estrangeiras.
O debate, segundo especialistas, está longe de terminar, pois envolve temas estratégicos para a defesa, a diplomacia e a economia nacional.

Relações comerciais Brasil–EUA
A decisão também acontece em um momento delicado das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, marcado pelo aumento de tarifas americanas sobre produtos brasileiros. Nesse contexto, o magistrado reforçou a importância do multilateralismo e do respeito às regras internacionais de comércio, como as da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A posição busca evitar que decisões judiciais sejam influenciadas por tensões políticas momentâneas, preservando a segurança jurídica e a previsibilidade para investimentos.
Possíveis efeitos para o setor aeroespacial
Especialistas apontam que a decisão pode provocar efeitos imediatos e de longo prazo no mercado:
- Curto prazo: aumento da disputa por engenheiros especializados
- Médio prazo: pressão sobre salários e benefícios na indústria nacional
- Longo prazo: risco de dependência de profissionais empregados por empresas estrangeiras

Desafios para a Embraer
A Embraer, maior fabricante brasileira do setor, enfrenta o desafio de manter sua competitividade enquanto perde parte de seus engenheiros para a concorrente. A empresa investe em programas de capacitação, parcerias acadêmicas e incentivos para reter talentos, mas a atratividade de propostas internacionais permanece alta.
Eventualmente, isso pode influenciar prazos de entrega, inovação e até participação em programas militares estratégicos.
Caminhos possíveis para a indústria nacional
Para enfrentar o cenário, especialistas sugerem medidas como:
- Investir em políticas de retenção de talentos
- Ampliar incentivos fiscais para empresas que formam profissionais
- Estimular projetos conjuntos entre empresas brasileiras e estrangeiras
- Criar mecanismos de proteção de conhecimento sensível sem violar a livre concorrência
Aliás, alguns defendem acordos de cooperação tecnológica que mantenham engenheiros no país, mas com atuação em projetos internacionais, equilibrando interesses econômicos e estratégicos.
POR: Estadão
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