Em julho de 2025, o deputado federal Hugo Motta, do Republicanos (PB), utilizou um jato da Força Aérea Brasileira (FAB), modelo VC-99 (Embraer Legacy 650), para viajar até Lisboa, Portugal, a fim de participar do Fórum de Lisboa. Esse evento, comumente apelidado de “Gilmarpalooza”, reúne autoridades dos três Poderes e é organizado por uma entidade ligada ao ministro Gilmar Mendes. A viagem, no entanto, gerou controvérsia devido aos elevados custos públicos com a utilização de recursos da FAB, principalmente em relação às diárias pagas à tripulação militar que acompanhou o parlamentar.
Custos com diárias da tripulação militar
O gasto com diárias da tripulação que fez parte da missão de apoio à viagem de Hugo Motta foi um dos aspectos mais notórios. De acordo com documentos obtidos pela Lei de Acesso à Informação (LAI), o valor total das diárias foi de aproximadamente R$ 60,9 mil, o equivalente a US$ 10,9 mil. Contudo, é importante destacar que esse valor se refere apenas ao pagamento das diárias dos militares que estavam a bordo da aeronave. As identidades dos demais acompanhantes do parlamentar, que também estavam presentes no voo, continuam sendo mantidas sob sigilo, gerando uma série de questionamentos tanto pela imprensa quanto pelo público.
A revelação dessas informações foi feita pelo jornal O Globo, após um pedido formal do veículo de comunicação ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica. A solicitação era para obter a lista completa dos passageiros que acompanharam o deputado Hugo Motta no voo da FAB. No entanto, a Aeronáutica se limitou a divulgar apenas os custos com as diárias da tripulação, sem fornecer detalhes sobre o número de militares envolvidos. Além disso, a Câmara dos Deputados também se recusou a divulgar a lista de passageiros, justificando-se por motivos de segurança.

Crédito: Mário Agra/Câmara dos Deputados
Investigação do TCU e sigilo imposto
O sigilo imposto sobre a identidade dos passageiros gerou questionamentos sobre a transparência do uso de recursos públicos, levando o Tribunal de Contas da União (TCU) a abrir um processo para investigar a situação. O caso está sendo conduzido pelo ministro Antonio Anastasia, que aguarda a análise técnica sobre a questão antes de se manifestar formalmente.
Vale ressaltar que a FAB, por sua vez, alegou que a responsabilidade pela divulgação dos nomes dos passageiros recai sobre a Câmara dos Deputados, conforme um decreto de 2020 que regulamenta o transporte de autoridades em aeronaves militares. De acordo com esse decreto, é incumbência do órgão solicitante, neste caso a Câmara, fornecer os dados, caso sejam requisitados. Portanto, a decisão de manter o sigilo sobre os passageiros não foi tomada pela Força Aérea, mas sim pela própria Câmara.
Custo total da viagem e outros gastos
Embora as diárias da tripulação tenham sido um dos aspectos mais questionados, os custos totais da viagem, que envolvem o uso do jato VC-99, são ainda mais altos. De acordo com estimativas baseadas nos custos do voo no mercado civil, o preço por hora de operação do avião é de aproximadamente US$ 5.600. Considerando que o voo de ida e volta de Brasília até Lisboa, com escala em Cabo Verde, totalizou cerca de 20 horas de voo, o custo médio dessa viagem foi de aproximadamente US$ 112 mil, o que equivale a cerca de R$ 628 mil.
Esses custos são ainda mais alarmantes quando comparados ao valor gasto em outros tipos de transporte oficial. É importante observar que o uso de aeronaves militares para viagens de autoridades tem gerado discussões sobre a necessidade de transparência, controle e a melhor alocação dos recursos públicos. Afinal, enquanto os custos são elevados, o uso de uma aeronave militar para viagens pessoais ou eventos privados levanta dúvidas sobre a justificativa e a adequação do gasto.

Impacto e críticas sobre o uso de recursos públicos
O uso de aeronaves militares para viagens de autoridades tem sido um tema polêmico e amplamente discutido em diversos círculos políticos e sociais. Embora o transporte de autoridades seja uma função legítima das Forças Armadas, o gasto público envolvido deve ser questionado sempre que houver indícios de que ele está sendo mal utilizado. No caso de Hugo Motta, o fato de a viagem ser para um evento privado e não para uma missão oficial coloca em xeque a necessidade do uso de um jato da FAB, além do alto custo envolvido.
Aliás, a ausência de clareza sobre os passageiros e a falta de transparência nas informações também alimentam críticas em relação à gestão pública e ao uso de recursos da União. Esses fatores, juntamente com a alta cifra envolvida na operação da aeronave, geram desconfiança e desconforto entre os cidadãos, que exigem mais responsabilidade no uso do dinheiro público.
Dúvidas sobre a transparência do governo
Certamente, a falta de transparência no processo e a recusa em fornecer informações detalhadas sobre os gastos relacionados ao voo de Hugo Motta geram um clima de desconfiança. A gestão pública deve ser pautada pela clareza e pelo compromisso com os contribuintes, que, afinal, são os responsáveis pelo financiamento de todas as operações do governo. Assim, o episódio reforça a importância de uma vigilância constante sobre as decisões tomadas pelos órgãos públicos, especialmente em relação ao uso de recursos provenientes dos impostos pagos pelos cidadãos.
É importante que o TCU continue sua investigação para garantir que os gastos com o voo de Hugo Motta sejam justificados de maneira apropriada e que todas as informações relevantes sejam disponibilizadas ao público. Somente com a completa transparência dos dados será possível avaliar a legitimidade do uso de recursos públicos para esse tipo de missão.
1 comment
[…] 29 de julho de 2025 […]