A recente decisão do comandante do Exército, general Tomás Paiva, trouxe mudanças significativas para a estrutura militar brasileira. A alteração envolve a transferência do Batalhão de Operações Psicológicas, que abrigava os chamados “kids pretos”, para o Comando Militar do Planalto. Essa medida, publicada no Boletim Interno da Força, retira o controle da unidade do Comando de Operações Especiais em Goiânia e leva sua estrutura para Brasília.
O impacto da decisão vai além da simples troca de endereço. A nova configuração amplia o uso estratégico do batalhão, permitindo que ele seja empregado por toda a Força e não apenas em missões restritas às operações especiais. Esse movimento busca também reduzir o peso político e operacional de um grupo que ficou marcado por episódios recentes, como a tentativa de golpe investigada pelo STF e a Polícia Federal.
Quem são os “kids pretos”
Os kids pretos ganharam notoriedade nos últimos anos. Trata-se de militares treinados para operações de guerra irregular, que incluem sabotagem, insurgência popular e ações de impacto psicológico. Eles utilizam gorros pretos em suas atividades, o que inspirou o apelido.
Seu lema é direto e mostra a mentalidade do grupo: “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira”. A presença dos kids pretos foi relevante durante o governo de Jair Bolsonaro. Pelo menos 26 integrantes do grupo atuaram diretamente em cargos estratégicos, incluindo os ex-ministros Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Para militares ouvidos nos bastidores, a mudança busca desvincular a imagem do Exército de qualquer ligação com ações políticas ou ideológicas de ex-integrantes do governo. O objetivo declarado é dar ao Batalhão de Operações Psicológicas uma função mais institucional e menos associada a figuras ou episódios polêmicos.

Motivações para a mudança
Segundo fontes do Alto Comando, a decisão de Tomás Paiva tem como foco recuperar a imagem da instituição e afastar a percepção de que o Exército tolera práticas que ameacem a estabilidade democrática. Com o julgamento de Jair Bolsonaro e de militares envolvidos nos atos de 8 de janeiro em curso, a postura oficial é clara: separar responsabilidades individuais da reputação da Força.
Essa diretriz foi reforçada em diversas reuniões internas. Paiva tem defendido que “a situação na ativa está cada vez mais controlada”, embora admita que parte dos militares da reserva ainda mantenha um discurso radical. Para conter o desgaste, a ordem é evitar confrontos públicos e neutralizar a influência de discursos de intervenção militar que circulam em alguns grupos políticos.
O que muda na prática
A transferência do Batalhão de Operações Psicológicas para o Comando Militar do Planalto traz implicações estratégicas importantes:
- Ampliação do uso: o batalhão passa a ser utilizado por todo o Exército, deixando de atender apenas operações especiais.
- Reforço institucional: maior controle do Alto Comando sobre as atividades do batalhão.
- Descentralização de poder: enfraquecimento da estrutura antes centralizada no Comando de Operações Especiais.
💡 Principais efeitos esperados:
- Redução da influência de grupos ligados a práticas políticas questionáveis.
- Maior integração do batalhão com os objetivos estratégicos da Força.
- Reforço do alinhamento institucional com os valores democráticos.

Um movimento para “virar a página”
No contexto atual, a cúpula do Exército mantém o discurso de calma e serenidade frente aos desdobramentos judiciais envolvendo Bolsonaro e militares de alta patente. A meta é “virar a página” e mostrar que as responsabilidades são individuais, não institucionais.
A percepção é de que a exposição excessiva de episódios ligados ao grupo prejudica a imagem da Força. Pesquisas internas indicam uma recuperação gradual da confiança pública, o que reforça a necessidade de medidas que distanciem a instituição de qualquer narrativa golpista.
Ao mesmo tempo, o Alto Comando tem sido categórico: não dará palco a parlamentares ou figuras que defendam ideias de intervenção militar. Como disse uma fonte de alta patente, a ordem é “ignorar solenemente” discursos extremistas.
Significado para a geopolítica militar brasileira
A mudança também tem reflexos na geopolítica militar interna. Brasília, por concentrar o centro político do país, torna-se um espaço estratégico para as operações do batalhão. Isso reforça a integração entre as Forças e facilita o controle direto do Alto Comando sobre ações que envolvem guerra psicológica e operações não convencionais.
Além disso, a alteração reforça o posicionamento do Exército como um ator institucional e não como peça de disputas políticas. Para especialistas, esse é um passo essencial para fortalecer a percepção do Exército como uma força profissional e alinhada à legalidade.
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