A declaração do presidente colombiano Gustavo Petro, de que a Colômbia deve sair da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), pode representar um marco histórico na política internacional do país. Petro, que assumiu a presidência com uma proposta de ruptura com a aliança tradicional com os Estados Unidos, pode estar colocando a Colômbia em um cenário de mudanças profundas. A saída da OTAN, se concretizada, representará um passo arriscado, especialmente considerando o impacto que isso pode ter nas forças armadas do país e nas relações com a principal potência militar mundial.
A decisão de Petro, se implementada, não apenas pode afetar a política externa da Colômbia, mas também pode gerar uma reação interna significativa dentro das Forças Armadas colombianas, que historicamente têm uma forte ligação com os Estados Unidos e com a OTAN. O desafio é grande, pois a Colômbia depende da cooperação com a aliança militar para diversas áreas de segurança e defesa, e a mudança dessa relação pode ter consequências políticas e militares profundas.
A COLÔMBIA E A ALIANÇA COM OS EUA
Historicamente, a Colômbia manteve uma relação estreita com os Estados Unidos, especialmente no que diz respeito à segurança e combate ao tráfico de drogas. Desde o fim do século XX, os EUA desempenharam um papel central na política de segurança colombiana, principalmente após a implementação do Plano Colômbia em 1999. O objetivo principal desse plano era combater as guerrilhas e os cartéis de drogas que assolavam o país, e os Estados Unidos investiram recursos significativos para apoiar o governo colombiano na luta contra esses grupos.
O apoio dos EUA à Colômbia não se limitou apenas ao financiamento, mas também à assistência militar, com o uso de instalações militares colombianas por parte dos Estados Unidos, uma prática que gerou tensões com países vizinhos, especialmente com a Venezuela. Em 2009, o governo colombiano firmou um acordo de cooperação em defesa e segurança com os Estados Unidos, o que ampliou ainda mais a presença militar dos americanos na Colômbia.
A entrada oficial da Colômbia na OTAN em 2013 como “sócio global” foi um reflexo da aproximação crescente com os EUA e uma forma de integrar o país aos padrões militares da aliança. A partir desse momento, a Colômbia passou a ter acesso a tecnologia, treinamentos e recursos militares da OTAN, além de se envolver em atividades de cooperação, como o combate ao tráfico de drogas e a segurança internacional.

A POLÍTICA DE PETRO E A PROPOSTA DE RUPTURA
Gustavo Petro, ao assumir a presidência da Colômbia em 2022, iniciou um movimento claro de distanciamento das políticas históricas de alinhamento com os Estados Unidos. Petro, o primeiro presidente de esquerda na história recente da Colômbia, tem se mostrado cada vez mais inclinado a adotar uma postura mais independente e voltada para o Sul Global, em oposição à influência dos países ocidentais e da OTAN.
A decisão de Petro de sugerir a saída da OTAN está diretamente ligada a essa reconfiguração da política externa da Colômbia. Petro argumenta que a Colômbia não pode continuar sendo parte de uma aliança militar agressiva, especialmente se deseja garantir a paz e a soberania nacional. A OTAN, segundo Petro, representa uma organização que impõe uma visão geopolítica alinhada aos interesses dos Estados Unidos e da Europa, enquanto a Colômbia precisa buscar novos caminhos de desenvolvimento e segurança, sem depender das potências do Norte.
IMPACTOS PARA AS FORÇAS ARMADAS COLOMBIANAS
A saída da OTAN teria, sem dúvida, um impacto significativo nas Forças Armadas colombianas. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica da Colômbia dependem de investimentos em tecnologia de defesa, treinamento e assistência militar fornecidos pela aliança. Além disso, a cooperação em inteligência e operações conjuntas com a OTAN tem sido um pilar essencial para o fortalecimento das capacidades militares do país, principalmente no combate ao narcotráfico e às guerrilhas.
Um dos maiores desafios enfrentados por Petro, ao buscar distanciar-se da OTAN, é a resistência interna das forças armadas, que têm um histórico golpista e uma forte lealdade aos Estados Unidos. A decisão de Petro pode ser vista como uma ameaça direta aos interesses de muitos militares, que veem a OTAN como um pilar de segurança e apoio técnico essencial. Essa resistência pode criar um ambiente político interno volátil, em que as forças armadas tentem intervir ou até mesmo sabotar o processo de mudança proposto por Petro.
O RISCO DE PERDER A CERTIFICAÇÃO DOS EUA NO COMBATE AO TRÁFICO DE DROGAS
Outro impacto imediato da saída da OTAN seria a perda de uma certificação crucial dos EUA para o combate ao tráfico de drogas. Esse certificado, que é concedido pelo Departamento de Estado dos EUA, tem sido vital para a Colômbia, pois permite o acesso a recursos e investimentos para políticas de repressão ao narcotráfico. A ausência dessa certificação pode dificultar a implementação de políticas de segurança, afetando diretamente o orçamento destinado ao combate às drogas no país.
A ex-ministra das Relações Exteriores, Laura Sarabia, afirmou que o governo colombiano estava se esforçando para renovar essa certificação, mas a saída da OTAN pode minar esses esforços, colocando a Colômbia em uma posição mais vulnerável em termos de apoio externo para enfrentar o narcotráfico.

A APROXIMAÇÃO COM O SUL GLOBAL
Petro tem defendido uma aproximação com países do Sul Global, buscando parcerias alternativas à hegemonia norte-americana. O governo colombiano tem buscado fortalecer suas relações com países da América Latina, África e Ásia, e a saída da OTAN poderia ser vista como uma maneira de a Colômbia se alinhar com essas nações e adotar uma postura de independência política e militar.
Esse movimento também visa a promover a paz e a estabilidade na região, distanciando a Colômbia de políticas de intervenção militar externa e buscando uma estratégia mais voltada para a cooperação internacional em temas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável e justiça social.
O DESAFIO POLÍTICO E A RESOLUÇÃO DO CONGRESSO
Embora a decisão de Petro tenha um respaldo de sua base de apoio, ela enfrenta grande resistência no Congresso colombiano, que tem fortes laços com os EUA e com a OTAN. Para efetivar a saída da Colômbia da aliança, Petro precisará de apoio parlamentar, o que pode ser um desafio, especialmente considerando o forte lobby dos militares e dos setores mais conservadores da política colombiana.
A pressão externa também não deve ser subestimada, já que os Estados Unidos podem reagir negativamente à proposta de Petro e até mesmo buscar formas de isolar a Colômbia no cenário internacional. Nesse contexto, Petro precisará de uma estratégia cuidadosa para convencer a comunidade internacional de que a saída da OTAN não comprometerá a estabilidade regional e as relações de segurança, mas sim proporcionará uma nova abordagem para a paz e a segurança na Colômbia.
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