O Senado dos Estados Unidos rejeitou, nesta sexta-feira (27), uma resolução proposta pelos democratas que visava restringir a capacidade do presidente Donald Trump de adotar ações militares contra o Irã sem a aprovação do Congresso. A medida gerou intenso debate entre os legisladores e refletiu a crescente preocupação sobre a autonomia do Executivo em decisões militares de grande escala, especialmente em um momento de tensão no Oriente Médio.
O Contexto da Resolução Proposta
O projeto foi apresentado pelo senador Tim Kaine, democrata do estado da Virgínia, sob a Lei dos Poderes de Guerra de 1973, uma legislação que visa limitar a autoridade do presidente dos Estados Unidos de iniciar conflitos militares sem a aprovação do Congresso. A proposta surgiu após uma série de ações militares envolvendo o Irã, incluindo ataques a três instalações nucleares iranianas, que foram autorizados por Trump em uma escalada de tensões na região.
A resolução exigia que qualquer ação militar contra o Irã, que não fosse uma resposta imediata em legítima defesa ou por um perigo iminente, precisasse da aprovação do Congresso. Essa medida foi vista como uma tentativa de restaurar o equilíbrio de poder entre os ramos executivo e legislativo, que muitos consideram ter sido desviado ao longo das décadas. A motivação para a proposta de Kaine surgiu da crescente preocupação com o potencial de escalada militar e os riscos que tais ações podem trazer para a segurança global.
Tim Kaine afirmou que a guerra não poderia ser deixada a decisões de uma única pessoa. Para ele, a complexidade e os riscos de uma guerra exigem um debate mais amplo, com a participação do Congresso e de outros líderes do país. “Acho que os eventos desta semana demonstraram que a guerra é grande demais para ser relegada à decisão de uma única pessoa”, disse Kaine durante a sessão no Senado.
A Votação e Suas Implicações Políticas
Na votação realizada, a resolução foi rejeitada por 53 votos contra 47. O resultado foi um reflexo das divisões partidárias e das opiniões divergentes sobre os poderes presidenciais. O senador republicano Rand Paul, que é conhecido por suas posturas mais liberais em relação aos poderes de guerra, votou com os democratas, mostrando seu apoio à ideia de que o Congresso deve ter maior controle sobre ações militares significativas. Já o senador democrata John Fetterman, surpreendentemente, votou contra a proposta, refletindo as complexidades e as disputas internas do partido em questões de política externa.
Essa votação representou uma mudança significativa em relação a uma votação semelhante de 2020, que também envolvia os poderes de guerra relacionados ao Irã. Naquela votação, oito senadores republicanos se uniram aos democratas para apoiar a restrição dos poderes do presidente, uma diferença notável em comparação com a rejeição da resolução agora. Esse novo cenário revela como a dinâmica política dos EUA está mudando, especialmente em relação às questões de guerra e paz no Oriente Médio.
O Impacto Internacional da Rejeição
A rejeição da resolução pelo Senado dos EUA tem implicações além das fronteiras do país. No cenário geopolítico, especialmente no Oriente Médio, as ações dos EUA têm repercussões significativas, e a capacidade do presidente de tomar decisões militares sem a consulta ao Congresso pode aumentar a tensão com potências como o Irã. Embora o Congresso tenha mais controle sobre os aspectos financeiros da guerra, a capacidade do presidente de ordenar ataques militares pode acelerar confrontos indesejados, algo que muitos legisladores veem como uma ameaça à segurança nacional e à estabilidade global.
A crescente influência dos republicanos nas questões de política externa também pode ser observada, já que a maioria do Senado ainda prefere permitir que o presidente tenha autonomia para agir rapidamente em caso de emergências militares. No entanto, esse ponto de vista contrasta com o crescente clamor por maior transparência e responsabilização nas decisões militares, algo que tem sido um tema central no debate sobre os poderes de guerra nos EUA.
A Câmara dos Deputados Pode Seguir em Frente com Nova Resolução
Após a votação no Senado, a Câmara dos Deputados dos EUA, liderada pelos democratas, poderá apresentar uma nova resolução sobre os poderes de guerra. A proposta, que deve ser discutida após o dia 4 de julho, buscará limitar as ações militares do presidente contra o Irã, mas o futuro da proposta é incerto. A nova resolução da Câmara, se aprovada, pode reacender o debate sobre o papel do Congresso nas decisões de guerra e sobre como os EUA devem interagir com o Irã, especialmente após o aumento das tensões com o regime iraniano.
O deputado republicano Thomas Massie, que já havia proposto uma resolução sobre os poderes de guerra, decidiu não seguir em frente com sua proposta após o cessar-fogo no conflito Irã-Israel. Massie, que foi crítico das ações militares dos EUA contra o Irã, acreditava que o Congresso deveria ter maior controle sobre o uso da força militar, mas sua proposta foi adiada em meio à situação em evolução.

A Visão Crítica de Mike Johnson
O presidente da Câmara, Mike Johnson, se posicionou contra as tentativas de limitar os poderes de guerra do presidente Trump. Ele criticou veementemente os legisladores que queriam forçar Trump a buscar a aprovação do Congresso para ações militares contra o Irã. Johnson defendeu que a Lei dos Poderes de Guerra não é constitucional, e que, em tempos de conflito, o presidente deve ter a liberdade de agir rapidamente para proteger os interesses dos Estados Unidos. Esse ponto de vista reflete a contínua divisão interna dentro do governo dos EUA sobre a maneira mais eficaz de lidar com ameaças externas.
O Futuro da Política Externa dos EUA
A questão dos poderes de guerra e da autonomia presidencial sobre ações militares é apenas um dos muitos desafios enfrentados pela política externa dos Estados Unidos. A rejeição da resolução no Senado destaca as divisões internas sobre como o país deve interagir com o Irã e outras potências, além de refletir o crescente debate sobre o papel do Congresso na decisão de entrar em conflitos armados.
Além disso, a situação no Oriente Médio continua a ser volátil, e a perspectiva de um confronto direto entre os EUA e o Irã permanece uma possibilidade preocupante. O papel do Congresso, os poderes do presidente e a estratégia de guerra preventiva serão temas centrais nos próximos debates políticos, à medida que os EUA tentam equilibrar suas ações militares com as necessidades de uma diplomacia eficaz.
POR: CNN Brasil