A nova escalada militar entre Israel e Irã, iniciada na quinta-feira (12), provocou consequências diretas para cidadãos brasileiros em solo israelense. Com o espaço aéreo de Israel fechado e a instabilidade regional aumentando, a Comissão de Relações Exteriores do Senado articula o envio urgente de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para realizar a repatriação de brasileiros que participavam de eventos oficiais e missões internacionais.
O presidente da Comissão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), iniciou gestões com o Itamaraty e com autoridades da aviação para viabilizar a operação. Segundo o parlamentar, há prefeitos, secretários estaduais e cidadãos sul-mato-grossenses entre os brasileiros que aguardam uma solução segura para deixar o país.
O episódio reacende o debate sobre os protocolos de segurança para missões diplomáticas e técnicas em regiões de potencial conflito, além de destacar o papel estratégico da FAB em operações de evacuação e repatriação.
Espaço aéreo fechado e risco crescente para brasileiros
Desde o início das ofensivas entre Israel e Irã, o espaço aéreo israelense permanece fechado para voos comerciais e civis. A medida foi adotada como precaução contra possíveis ataques retaliatórios com drones e mísseis, que poderiam atingir alvos civis ou áreas sensíveis.
Com a interrupção das rotas aéreas, diversos grupos de brasileiros que participavam de eventos oficiais ficaram impossibilitados de retornar ao país. Entre eles estão membros da delegação do Consórcio Brasil Central e convidados da Muni Expo Israel 2025, uma feira internacional de tecnologia urbana.
Esses brasileiros estão divididos principalmente entre Tel Aviv e Kfar Saba, cidade localizada a cerca de 24 quilômetros da capital israelense. Ambas as localidades, embora com certa infraestrutura de segurança, estão dentro do raio de alerta das Forças de Defesa de Israel (FDI), que mantêm seus sistemas de defesa aérea em constante vigilância.
A presença de autoridades brasileiras em solo israelense, incluindo secretários de Estado e prefeitos, elevou a urgência da ação por parte do governo federal.
O papel da Força Aérea Brasileira em repatriações emergenciais
A Força Aérea Brasileira (FAB) possui histórico de atuação em missões de resgate e repatriação em zonas de conflito ou desastres humanitários. A estrutura da FAB permite mobilizações rápidas com aeronaves de grande alcance, como os Embraer KC-390 Millennium e os Boeing 767 configurados para transporte estratégico.
Essas aeronaves são capazes de operar mesmo em ambientes hostis, desde que haja coordenação com as autoridades locais e garantias mínimas de segurança para pouso e decolagem. Em casos anteriores, como na retirada de brasileiros do Líbano em 2006 e do Haiti em 2010, a FAB demonstrou sua capacidade de execução com precisão e agilidade.
No caso de Israel, a negociação envolve interação com o governo local, autorização para acesso ao espaço aéreo e definição de pontos seguros de embarque. Esses trâmites são conduzidos em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), que atua como ponte diplomática entre os países.

Pressão do Senado acelera articulações com o Itamaraty
Diante da gravidade da situação, o senador Nelsinho Trad declarou que está fazendo gestões diretas com o Itamaraty para viabilizar a operação. Segundo o parlamentar, é urgente garantir a segurança dos brasileiros que se encontram em Israel a convite do governo local para participar de seminários de cooperação tecnológica.
A atuação da Comissão de Relações Exteriores do Senado tem sido fundamental para articular com o Poder Executivo e pressionar por uma resposta rápida. A preocupação central é evitar que os cidadãos brasileiros fiquem presos em território estrangeiro em meio a um conflito militar em escalada.
O Senado, em parceria com o Ministério da Defesa, busca definir a logística de envio de uma aeronave militar equipada para transportar não apenas autoridades, mas também técnicos e convidados civis que estejam em situação de risco.
O protocolo de evacuação internacional e os desafios diplomáticos
O envio de uma aeronave militar brasileira a Israel para fins de repatriação não se resume à simples autorização de voo. A operação envolve diversas camadas de negociação diplomática, autorização internacional, análise de risco e logística de embarque.
Para ser efetivada, a missão exige:
- Autorização do governo de Israel para pouso e operação em seu território;
- Garantia de corredores aéreos seguros até o ponto de extração;
- Cooperação entre as autoridades de segurança israelenses e brasileiras;
- Logística de transporte dos brasileiros até o ponto de embarque;
- Avaliação constante da situação no local, incluindo o risco de bombardeios ou protestos.
Além disso, é necessário que os passageiros estejam documentados e disponíveis para embarque imediato, o que exige organização e comunicação em tempo real entre as partes envolvidas.
A importância de planos de contingência para missões internacionais
O episódio atual levanta questões sobre a preparação das delegações brasileiras em viagens internacionais a zonas de risco. Embora Israel seja um país com alto desenvolvimento tecnológico e militar, sua localização geográfica e tensões geopolíticas exigem planejamento reforçado.
Missões oficiais que envolvem representantes políticos e técnicos deveriam sempre estar respaldadas por planos de evacuação e protocolos de crise, acionáveis em caso de deterioração rápida da segurança local.
A eventualidade de ataques coordenados, fechamento de aeroportos ou manifestações hostis precisa estar no radar de qualquer missão internacional. O envio da FAB, nesse contexto, não é apenas uma resposta pontual, mas uma demonstração de que o Estado brasileiro está atento e preparado para proteger seus cidadãos.
O que está em jogo para o Brasil
A crise no Oriente Médio não apenas compromete a segurança de brasileiros no exterior, mas também pode influenciar diretamente relações diplomáticas e comerciais. A presença de brasileiros em eventos como a Muni Expo Israel 2025 faz parte de uma estratégia de aproximação com setores de inovação tecnológica israelense.
No entanto, o agravamento do conflito e a necessidade de evacuação forçada podem alterar o curso de futuras cooperações. É essencial que o Brasil, por meio de suas instituições civis e militares, mostre capacidade de articulação rápida e eficiente, não apenas para garantir segurança, mas também para preservar sua imagem internacional como parceiro confiável.
O sucesso da missão da FAB em Israel pode reforçar o papel do Brasil em missões humanitárias e de resgate, elevando a percepção de sua força aérea como instrumento de projeção de soberania e solidariedade internacional.