A China exibiu recentemente um dos maiores desfiles militares de sua história. O evento contou com a presença de mais de 20 chefes de Estado estrangeiros, incluindo Vladimir Putin, da Rússia, e Kim Jong Un, da Coreia do Norte. Foi mais que uma celebração militar: tratou-se de uma demonstração clara do poderio chinês e da força estratégica que Pequim deseja projetar no cenário internacional.
Em meio a tanques, caças furtivos e armamentos futuristas, destacaram-se três elementos centrais: lasers militares, mísseis hipersônicos e a ênfase na tríade nuclear. Tais avanços colocam a China em uma posição cada vez mais desafiadora diante dos Estados Unidos e seus aliados.
Sob a liderança de Xi Jinping, a mensagem transmitida foi inequívoca: a China não apenas moderniza suas forças armadas, mas também busca reposicionar-se como potência militar global. Afinal, o impacto dessas tecnologias vai muito além do desfile; ele reflete mudanças profundas na doutrina e na capacidade bélica do país.
O avanço dos mísseis hipersônicos e o “Destruidor de Guam”
Um dos pontos mais comentados foi a apresentação de novos mísseis hipersônicos. Esses armamentos representam um salto tecnológico porque atingem velocidades superiores a Mach 5 e executam manobras imprevisíveis. Isso dificulta a interceptação por sistemas antimísseis, inclusive os mais modernos.
Entre os modelos apresentados estavam o Dongfeng-26D, apelidado de Destruidor de Guam. O nome não é à toa. O míssil é projetado para atingir as bases militares dos Estados Unidos localizadas em Guam, território estratégico no Pacífico. Além disso, a China revelou o Dongfeng-61, capaz de carregar múltiplas ogivas nucleares, e o Dongfeng-5C, um míssil balístico intercontinental com alcance direto até solo americano.
Aliás, a aposta chinesa em mísseis hipersônicos evidencia uma estratégia clara de dissuasão. O país entende que a Marinha dos EUA possui a maior frota de porta-aviões do mundo, mas também reconhece que esses gigantes do mar podem se tornar alvos vulneráveis diante de mísseis de longo alcance e alta velocidade.
Assim, a China busca estabelecer não apenas uma defesa, mas uma capacidade de segundo ataque, ou seja, a possibilidade de responder de forma devastadora a qualquer agressão.
Principais características dos mísseis hipersônicos chineses:
✔️ Velocidade superior a Mach 5
✔️ Capacidade de manobra imprevisível
✔️ Alcance intercontinental em alguns modelos
✔️ Capacidade de transportar múltiplas ogivas
✔️ Potencial para neutralizar grupos de ataque navais
Essa combinação faz dos mísseis uma peça central da força militar da China, sobretudo contra a presença americana no Indo-Pacífico.

Lasers militares e o futuro da guerra eletrônica
Outro destaque foi a introdução de sistemas de armas a laser, como o canhão LY-1. Diferente dos armamentos convencionais, o laser militar não depende de projéteis tradicionais. Ele utiliza feixes concentrados de energia capazes de:
- Queimar ou desativar circuitos eletrônicos;
- Cegar sensores ópticos de mísseis inimigos;
- Neutralizar drones e aeronaves em baixa altitude;
- Comprometer a visão de pilotos adversários em combate.
O uso de lasers demonstra a aposta chinesa em guerra eletrônica e tecnologias de energia dirigida. Afinal, esses armamentos oferecem baixo custo por disparo, alta precisão e velocidade praticamente instantânea.
Embora ainda existam limitações — como a necessidade de alta potência energética e condições climáticas favoráveis —, a adoção desses sistemas mostra que a China pretende dominar não apenas o campo físico, mas também o espaço eletromagnético da guerra moderna.
Conquanto outros países, como EUA e Rússia, também invistam em armas de energia dirigida, o desfile chinês sinalizou que Pequim acelera essa corrida.

A tríade nuclear chinesa em expansão
Poucos países no mundo possuem a chamada tríade nuclear, composta por armas nucleares lançadas de:
- Terra (mísseis balísticos intercontinentais),
- Mar (submarinos lançadores de mísseis),
- Ar (bombardeiros estratégicos).
A exibição chinesa confirmou avanços em todas essas frentes. O arsenal terrestre mostrou-se diversificado, com ogivas móveis em veículos lançadores. No mar, a China apresentou submarinos com capacidade de lançar mísseis balísticos nucleares, consolidando uma dissuasão marítima robusta. Já no ar, caças de quinta geração como o J-20 e o J-35 surgiram como plataformas furtivas capazes de integrar armas nucleares de precisão.
Inegavelmente, esse fortalecimento da tríade coloca a China no seleto grupo de nações com capacidade de contra-ataque nuclear garantido. Isso significa que, mesmo diante de um ataque surpresa, o país ainda teria condições de retaliar, assegurando sua posição na estratégia de dissuasão global.
Inteligência artificial, drones e robôs no campo de batalha
Um dos pontos que mais chamaram atenção no desfile foi o uso massivo de drones e sistemas autônomos. A China apresentou desde drones de ataque furtivo até veículos subaquáticos não tripulados.
O submarino gigante AJX-002, por exemplo, representa um veículo subaquático extragrande não tripulado (XLUUV), com até 20 metros de comprimento. Ele pode realizar missões de reconhecimento, vigilância e até operações de sabotagem sem risco direto a tripulações humanas.
Além disso, o drone GJ-11, apelidado de “fiel escudeiro”, é projetado para acompanhar caças tripulados em missões de combate, oferecendo suporte em ataques e reconhecimento.
De maneira surpreendente, Pequim apresentou também os chamados lobos-robôs, capazes de atuar em terrenos hostis. Especialistas apontam que eles poderiam ser usados em:
- Caça a soldados inimigos;
- Varredura de minas terrestres;
- Missões de reconhecimento em ambientes perigosos.
Segundo analistas, a China parece ter absorvido lições da guerra na Ucrânia, onde o uso intensivo de drones se tornou decisivo. A lógica é simples: saturar as defesas inimigas com enxames de drones baratos e autônomos, forçando o adversário a gastar recursos caros em interceptações.
Assim, a integração de inteligência artificial permite decisões em frações de segundo, ampliando a eficiência dos ataques. Enquanto algumas nações hesitam em entregar tanto poder à IA, Pequim mostra-se determinada a incorporar inteligência artificial em sua cadeia de destruição militar.

Diferenças estratégicas entre EUA e China
Apesar dos avanços, especialistas afirmam que os Estados Unidos ainda mantêm vantagem operacional. Isso porque o modelo militar americano valoriza a autonomia das unidades no campo de batalha, permitindo decisões rápidas e adaptáveis.
A China, por outro lado, adota uma estrutura rígida, onde ordens vêm de cima para baixo. Isso pode atrasar respostas em combate real. Ainda que possua tecnologia militar avançada, o Exército chinês carece de experiência em conflitos contemporâneos, já que não participa de guerras significativas há décadas.
Analogamente, incidentes recentes reforçam essa percepção. Um navio de guerra chinês colidiu com outra embarcação durante uma operação no Mar do Sul da China, levantando dúvidas sobre a eficácia do treinamento e da coordenação operacional.

O desfile como vitrine geopolítica
Além da função militar, o desfile serviu como uma vitrine diplomática e comercial. Com líderes estrangeiros no palco, Pequim sinalizou não apenas força, mas também alianças estratégicas. Rússia e Coreia do Norte, presentes ao lado de Xi Jinping, reforçaram a imagem de um bloco unido em oposição ao Ocidente.
Outrossim, a exibição foi uma oportunidade para atrair compradores de armas. Países como Mianmar já adquirem grandes quantidades de armamentos chineses, mas a meta de Pequim é ampliar sua carteira de clientes.
Portanto, o desfile não foi apenas uma demonstração interna de poder, mas também um recado direto aos Estados Unidos: enfrentá-los significaria lidar simultaneamente com múltiplos teatros de conflito — Taiwan, Ucrânia e Península Coreana.
POR: BBC
Últimas notícias
Crise militar entre Venezuela e EUA acende alerta na fronteira brasileira, diz ministro da Defesa
A escalada de tensão entre Venezuela e Estados Unidos reacendeu preocupações estratégicas no Brasil. O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o governo acompanha …
2 comments
[…] […]
[…] por Vida no Quartel 6 de setembro de 2025 […]