O Brasil vive um momento inédito em sua diplomacia militar. O Itamaraty está em busca de uma nova sede para a embaixada brasileira em Pequim, pois a representação vai receber reforços expressivos de pessoal. Entre os novos integrantes estarão representantes da Receita Federal, da Polícia Federal e, sobretudo, dois oficiais das Forças Armadas com patente de oficial-general — algo raro em representações brasileiras fora dos Estados Unidos.
Ademais, este reforço acontece em um momento de aproximação estratégica entre Brasil e China, refletindo interesses econômicos e militares cada vez mais alinhados. A chegada dos novos adidos exigirá ampliação de escritórios e reformas na atual adidância militar, sinalizando um salto de presença institucional no país asiático.
Adidos militares de alto escalão
O destaque da nomeação é o general Rovian Alexandre Janjar, do Exército Brasileiro, que desembarcará em Pequim em dezembro. Ele será o novo adido da Defesa, representando o Ministério e atuando como elo entre as forças militares brasileiras e o governo chinês.
Simultaneamente, a Marinha enviará um contra-almirante para ocupar o posto de adido naval, também a partir de dezembro. O atual adido aeronáutico, um coronel da Força Aérea Brasileira, permanecerá na função. Já os adidos do Exército e da Marinha, que hoje ocupam cargos na embaixada, passarão a atuar como adjuntos. Assim, o efetivo militar no corpo diplomático brasileiro em Pequim passará para cinco integrantes.

Comparação com a presença nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a estrutura já consolidada conta com três oficiais-generais, cada um representando uma Força, além de seis adjuntos com patente de coronel ou equivalente. Ademais, o Brasil mantém no território norte-americano um oficial-general do Exército como subcomandante do Exército Sul dos EUA, função estratégica para o relacionamento com as Forças Armadas daquele país.
Essa configuração serve de modelo para a nova estrutura que o Brasil implementará na China. Conforme especialistas, o envio de oficiais de mais alta patente ao gigante asiático coloca o relacionamento militar bilateral em um patamar até então inédito.
Decisão política e diplomática
O decreto que formaliza as mudanças foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo ministro da Defesa e pelo ministro das Relações Exteriores em junho de 2025. Curiosamente, a decisão ocorreu apenas três semanas após a visita oficial do chefe de Estado brasileiro a Pequim.
A diplomacia chinesa, por meio do porta-voz Guo Jiakun, elogiou o fortalecimento dos laços, afirmando que, “sob a orientação estratégica dos dois presidentes, a construção da comunidade sino-brasileira para um futuro compartilhado produziu frutos”.
O porta-voz ainda destacou que “a cooperação mutuamente benéfica entre a China e o Brasil beneficia os dois povos e se tornou modelo entre países em desenvolvimento”, sinalizando abertura para aprofundar a parceria em diversas áreas estratégicas.

Histórico recente e aproximação militar
A nomeação do general Janjar ocorre um ano após a visita do comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Paiva, à China. Na ocasião, ele se reuniu com o ministro da Defesa chinês, almirante Dong Jun, e com o comandante da Força Terrestre do Exército de Libertação Popular. A missão incluiu também visita à estatal Norinco, fabricante de sistemas e equipamentos militares.
Especialistas como o coronel da reserva Paulo Filho, analista militar e pós-graduado pela Universidade Nacional de Defesa em Pequim, consideram que esta decisão é resultado de um processo de amadurecimento que acompanha a realidade atual do sistema internacional.
Relevância estratégica da China para o Brasil
Segundo Paulo Filho, a China não é apenas o maior parceiro comercial do Brasil, mas também uma potência militar moderna. Desde as reformas de 2015, suas Forças Armadas ganharam projeção em domínios terrestre, marítimo, aéreo, cibernético e espacial.
Essa diversificação, aliás, cria oportunidades para cooperação técnica e aquisição de tecnologias militares a preços competitivos. Eventualmente, esse intercâmbio poderá incluir sistemas de defesa, veículos blindados e armamentos de última geração.
📌 Principais fatores para a escolha da China como foco militar brasileiro:
- Parceria comercial consolidada.
- Forças Armadas modernas e diversificadas.
- Potencial de cooperação em defesa cibernética e espacial.
- Interesse em ampliar canais diplomáticos de alto nível.
Percepção acadêmica e comparações com os EUA
Para Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, a decisão brasileira possui peso simbólico significativo. “É como se o Brasil estivesse equiparando a China aos Estados Unidos no nível da diplomacia militar que pretende desenvolver”, afirma.
Contudo, ele lembra que a cooperação militar brasileira ainda é mais intensa com os Estados Unidos e países da OTAN. Entre os exemplos, estão os programas conjuntos com a França (submarinos), com a sueca Saab (caças Gripen) e com a italiana Iveco (blindado Guarani).
Impacto esperado e próximos passos
O reforço da adidância militar em Pequim representa não apenas um fortalecimento dos laços com a China, mas também uma reconfiguração da estratégia diplomática brasileira. Enquanto os escritórios da nova sede não ficam prontos, os adidos e adjuntos atuarão nas instalações já existentes, atualmente em reforma.
O movimento sinaliza que o Brasil está disposto a ampliar seu protagonismo no cenário internacional, diversificando suas parcerias e ajustando sua postura frente às novas dinâmicas geopolíticas.
POR: Revista OESTE
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