As relações diplomáticas entre Brasil e Ucrânia estão atravessando um momento de tensão crescente. A decisão do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky de não nomear um novo embaixador para o Brasil, após a saída do antigo representante em Brasília, é um reflexo de descontentamentos com as posturas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, particularmente em relação ao apoio indireto à Rússia durante o conflito na Ucrânia. Essa mudança nas relações diplomáticas é um sinal claro de que os laços entre os dois países estão longe de ser harmônicos e apontam para um distanciamento significativo.
A Política Externa de Lula e Suas Consequências para o Brasil
Desde o início de seu novo mandato, o presidente Lula tem adotado uma política externa que, de acordo com a Ucrânia, tem favorecido a Rússia. A crítica ucraniana se concentra especialmente nas declarações e gestos do governo brasileiro, que são interpretados como sinais de apoio a Moscou. Um dos episódios mais notáveis que agravam as tensões foi a visita de Lula à Rússia, em maio de 2023, onde participou das celebrações do 80º aniversário do Dia da Vitória. Esse evento é de grande importância para o governo russo, e a presença de Lula foi vista com maus olhos por Kiev, que passou a interpretar as atitudes do Brasil como um alinhamento com os interesses do Kremlin.
Além disso, durante esse período, as tentativas de diálogo entre o presidente brasileiro e Volodymyr Zelensky foram rejeitadas pela Ucrânia. Kiev classificou as tentativas de contato como “cinismo”, uma tentativa de suavizar a imagem de aproximação com Vladimir Putin, enquanto a guerra continua devastando seu território. Essas declarações e gestos por parte de Lula aumentaram o ressentimento da Ucrânia, que se viu desamparada pelo Brasil no cenário internacional.
A Retirada do Embaixador e Seus Impactos nas Relações Diplomáticas
A decisão de Zelensky de não designar um novo embaixador para o Brasil, um cargo vago desde junho de 2023, é um reflexo direto dessa insatisfação com o governo brasileiro. No contexto diplomático internacional, a ausência de um embaixador em uma capital é frequentemente vista como um sinal claro de descontentamento ou de diplomacia interrompida. A Ucrânia, ao escolher não substituir seu embaixador em Brasília, está sinalizando uma possível paralisação das relações com o Brasil, um país com o qual, em tempos anteriores, manteve uma convivência pacífica e cooperativa.
Essa mudança não apenas afeta a representação política entre os dois países, mas também interfere diretamente nas negociações comerciais e na cooperação bilateral em outras áreas, como segurança e economia. Para o Brasil, um país que tem buscado se posicionar como mediador internacional, essa decisão coloca o governo de Lula em uma posição desconfortável, tendo que lidar com a repercussão de uma política externa cada vez mais isolada e criticada por seus aliados ocidentais.

A Busca de Zelensky por Novos Aliados na América Latina
Em um movimento que contrastou com a postura em relação ao Brasil, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou a abertura de quatro novas embaixadas ucranianas na América Latina. Os novos postos diplomáticos foram estabelecidos em Equador, República Dominicana, Panamá e Uruguai, países com os quais a Ucrânia busca fortalecer suas relações diante da crescente pressão política e econômica que enfrenta. Ao mesmo tempo, a Ucrânia está reduzindo sua presença diplomática em Cuba, um reflexo claro de sua tentativa de realinhar suas relações e se aproximar de nações que tenham mais afinidade com a sua posição na guerra contra a Rússia.
Essas novas iniciativas diplomáticas indicam um movimento estratégico de Zelensky para ampliar as relações internacionais da Ucrânia, especialmente em uma região onde a presença russa e as tensões com o Ocidente continuam a ser temas centrais. A escolha de países latino-americanos como novos aliados pode ser vista como uma tentativa de diversificação da política externa ucraniana e uma forma de ampliar seu suporte em áreas diplomáticas e econômicas.
A Ucrânia e o Brasil: Desafios na Diplomacia Internacional
A relação entre Brasil e Ucrânia vem se tornando cada vez mais complexa à medida que o governo brasileiro mantém seu posicionamento de neutralidade em relação ao conflito. No entanto, esse posicionamento não é visto com bons olhos por Kiev, que espera um apoio mais explícito das potências ocidentais, incluindo o Brasil, um país com grande importância política e econômica na América Latina.
A postura de Lula, que se recusa a condenar diretamente a Rússia ou a tomar medidas mais rígidas contra Moscou, tem sido criticada por muitos analistas como uma tentativa de equilíbrio no cenário internacional. No entanto, essa estratégia tem suas consequências, com o Brasil perdendo o apoio de alguns de seus aliados tradicionais, como a Ucrânia, e colocando em risco a credibilidade diplomática do país no contexto global.
A ausência de um embaixador ucraniano em Brasília, portanto, representa um ponto crítico nas relações diplomáticas, que pode afetar não apenas a política externa do Brasil, mas também seus interesses econômicos e comerciais em um momento em que a geopolítica internacional está em constante transformação.

A Reação do Brasil e as Possíveis Consequências para as Relações Futuras
O governo brasileiro, por sua vez, tem procurado minimizar as tensões diplomáticas com a Ucrânia, afirmando que, embora as relações estejam sendo desafiadas, a diplomacia bilateral continua fluente. A diplomacia brasileira busca restabelecer o canal de comunicação entre Lula e Zelensky, tentando, de alguma forma, reduzir o impacto negativo da falta de um embaixador e preservar as relações com Kiev.
No entanto, a falta de um embaixador e as críticas mútuas não são os únicos desafios para o Brasil. A pressão internacional sobre o país para se alinhar com os países ocidentais contra a Rússia está crescendo, especialmente à medida que o Brasil dobrou suas importações de produtos russos durante a guerra. Isso coloca o Brasil em uma posição delicada, onde terá que decidir entre manter sua neutralidade ou se alinhar mais fortemente com o Ocidente, algo que pode gerar repercussões políticas e econômicas de longo prazo.
A Continuação da Diplomacia Brasileira: A Caminho de um Novo Equilíbrio?
Neste cenário de crescente tensão diplomática, o Brasil precisará navegar cuidadosamente entre seus aliados globais e suas relações com a Rússia e a Ucrânia. As decisões futuras do governo de Lula em relação ao conflito na Ucrânia terão implicações não apenas para a política externa, mas também para o comércio internacional, segurança regional e sua posição estratégica em organizações internacionais como a ONU e a OTAN.
O futuro da diplomacia brasileira dependerá da capacidade do país em restabelecer seus laços com países como a Ucrânia, enquanto mantém sua posição de mediador internacional, equilibrando cuidadosamente as pressões internas e externas.
POR: Metrópoles
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[…] 23 de julho de 2025 […]