A guerra entre a Ucrânia e a Rússia não está apenas mudando as dinâmicas geopolíticas, mas também está remodelando indústrias, especialmente o setor de tecnologia no Leste Europeu. Empresas de tecnologia, especialmente as startups, estão se adaptando rapidamente às novas necessidades do campo de batalha, transformando produtos de consumo, como drones e scooters, em ferramentas de uso militar. Esta mudança não apenas impulsiona a inovação no setor, mas também coloca os países da região em uma posição estratégica, mais dependente de suas próprias capacidades de defesa.
A Transformação de Produtos Civis em Ferramentas Militares
A startup letã Global Wolf Motors exemplifica como o setor de tecnologia está reagindo às mudanças exigidas pela guerra. Originalmente, a empresa desenvolveu a Mosphera, uma scooter elétrica robusta, com a ideia de entrar no nicho da micromobilidade, oferecendo uma alternativa eficiente e divertida para transporte em ambientes urbanos. No entanto, com a eclosão da guerra, as necessidades da Ucrânia no campo de batalha mudaram rapidamente as perspectivas de uso desse produto.
Inicialmente, os co-fundadores da Global Wolf, Henrijs Bukavs e Klavs Asmanis, tinham como foco atender a consumidores civis, como fazendeiros, trabalhadores de serviços públicos e até a polícia. No entanto, a mobilização das forças ucranianas trouxe uma nova oportunidade: adaptar a Mosphera para fins militares. As scooters foram enviadas para a Ucrânia e rapidamente se mostraram eficazes em missões de reconhecimento e patrulha, permitindo uma mobilidade incomum para os batedores ucranianos. Com suas rodas grandes e a capacidade de percorrer terrenos difíceis, a Mosphera se tornou uma ferramenta versátil para a guerra moderna.
💡 Transformação de produtos civis para militares:
- Scooters para patrulhas de fronteira
- Drones de consumo adaptados para observação e bombardeio
- Sistemas de IA usados para vigilância e guerra cibernética

O Impacto da Guerra na Inovação do Setor de Tecnologia Militar
A adaptação rápida de produtos civis para uso militar não é uma ocorrência isolada. No caso da Ucrânia, a pressão da guerra tem levado os engenheiros a transformar rapidamente produtos civis em ferramentas de defesa eficazes. O país, com sua indústria de tecnologia avançada, tem sido forçado a mudar seu foco de inovação para soluções de uso duplo, isto é, produtos inicialmente criados para o mercado civil, mas adaptados para as exigências do campo de batalha.
O uso de drones civis como drone Bayraktar, fabricado na Turquia, e os quadricópteros DJI, inicialmente usados para filmagens recreativas, rapidamente se transformou em sistemas de observação e bombardeio no conflito. Em menos de um ano, a Ucrânia passou a produzir seus próprios sistemas de UAVs (Veículos Aéreos Não Tripulados), com design local e adequados às necessidades específicas de guerra eletrônica e vigilância militar.
Além disso, startups do setor de tecnologia de defesa passaram a desenvolver plataformas de software, equipamentos de telecomunicações e veículos especializados para uso em missões de combate. A criação desses produtos com capacidade de adaptação militar não é apenas uma resposta à crise, mas também um reflexo de como a tecnologia de uso duplo pode se tornar um pilar essencial da defesa moderna.
O Papel das Startups no Fortalecimento da Defesa Europeia
Os países do Leste Europeu, especialmente os da região báltica, têm observado de perto a evolução da resistência ucraniana. A Letônia, por exemplo, tem investido significativamente em startups que podem desenvolver tecnologia de defesa nacional, além de aproveitar o potencial de inovação das empresas locais para fortalecer sua capacidade militar. A criação de drones, como os fabricados pela Atlas Dynamics em Riga, ou os veículos off-road desenvolvidos pela VR Cars, são exemplos de como a tecnologia civil está sendo transformada em ferramentas de combate.
As startups letãs e de outros países bálticos estão agora mais atentas às necessidades militares e estão adaptando seus produtos para suprir lacunas de defesa. Além disso, os investimentos governamentais também têm incentivado o setor a inovar rapidamente, com fundos dedicados ao desenvolvimento de tecnologias de defesa. A LMT, uma empresa nacional de telecomunicações da Letônia, por exemplo, está trabalhando no desenvolvimento de drones e sensores para uso militar, além de um sistema de internet das coisas (IoT) para o campo de batalha, com a capacidade de rastrear em tempo real todos os ativos no teatro de guerra.
📊 Iniciativas de inovação em defesa no Leste Europeu:
- Investimentos em drones e UAVs para uso militar e vigilância
- Desenvolvimento de plataformas de software para apoio logístico e comunicação
- Apoio a pequenas empresas e startups na produção de equipamentos especializados

A Resposta da OTAN e a Necessidade de Colaboração entre Governo e Indústria
Enquanto os países da OTAN investem grandes quantias em incubadoras de inovação e fundos para startups, a burocracia e as camadas de processos oficiais ainda representam um desafio. Ieva Ilves, diplomata letã e especialista em política tecnológica, destaca que embora a Europa tenha aprendido com a resistência ucraniana, ainda há obstáculos para integrar a inovação tecnológica nas forças armadas de maneira mais eficiente. O aprendizado da Ucrânia mostra que é crucial eliminar a burocracia, simplificar os processos de aquisição e permitir uma maior flexibilidade nas parcerias público-privadas para garantir que a inovação seja aplicada rapidamente.
Inovações em resposta à guerra:
- Melhoria de drones com resistência à guerra eletrônica
- Colaboração entre startups e forças armadas para rápida adaptação tecnológica
- Investimentos governamentais em novas tecnologias de defesa
As startups do setor de tecnologia militar, como as da Letônia e de outros países vizinhos da Ucrânia, estão respondendo a essa necessidade de inovação contínua, criando soluções de defesa de baixo custo que podem ser implementadas rapidamente. Contudo, o sucesso dessas inovações depende da colaboração entre indústrias privadas e os governos nacionais, algo que precisa ser mais ágil e menos burocrático para se adaptar aos tempos de guerra.

A Ameaça do Isolamento e a Competição Global
À medida que o conflito entre a Ucrânia e a Rússia se intensifica, as empresas de tecnologia da região estão se preparando para o que muitos consideram um futuro incerto, mas potencialmente vantajoso. A pressão da OTAN para garantir a segurança tecnológica e militar pode significar a adoção de novos modelos de colaboração internacional, que são urgentes, mas também desafiadores. A competição global no setor de defesa está crescendo, e as empresas de tecnologia europeias agora têm a chance de provar seu valor no campo de batalha, fornecendo soluções rápidas e eficientes.
🚀 O que está em jogo para as startups tecnológicas:
- Aceleração no desenvolvimento de tecnologia militar
- Potencial para ganhar contratos com forças armadas
- Desafios em inovar dentro de um ambiente político e militar complexo
O futuro das startups de tecnologia no Leste Europeu pode depender não apenas de sua capacidade de inovar rapidamente, mas também de sua habilidade em negociar e adaptar produtos civis para atender às necessidades militares. A resistência ucraniana tem mostrado o poder da mobilização social e tecnológica diante de uma ameaça existencial, algo que pode servir de modelo para outros países da região.
POR: OPEU
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[…] 22 de julho de 2025 […]
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