Alemanha e EUA discutem fornecimento de novo sistema de defesa aérea Patriot para reforçar a proteção de Kiev diante da intensificação dos bombardeios da Rússia
Em meio à crescente pressão militar da Rússia sobre a Ucrânia, uma nova movimentação diplomática e militar vem ganhando destaque nos bastidores das potências ocidentais. Segundo fontes da imprensa internacional, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria sugerido à Alemanha a venda direta de um dos seus sistemas de defesa aérea Patriot à Ucrânia. A proposta, feita durante uma conversa telefônica com o chanceler alemão Friedrich Merz, reacendeu o debate sobre o papel da Alemanha no apoio à defesa aérea de Kiev.
A sugestão surge em um contexto sensível. A Ucrânia vem sendo alvo de ataques aéreos cada vez mais intensos, envolvendo drones kamikazes e mísseis balísticos. Na madrugada de um ataque recente, mais de 500 projéteis foram lançados contra cidades ucranianas, testando os limites das defesas aéreas do país.
As Forças Armadas Ucranianas contam atualmente com seis sistemas Patriot, considerados um dos poucos capazes de interceptar com eficiência mísseis balísticos de médio alcance. A Ucrânia, no entanto, afirma que precisa de mais unidades para cobrir zonas vulneráveis e proteger áreas civis e estratégicas.
A proposta de Trump e o papel da Alemanha
Donald Trump, que busca reforçar sua influência política mesmo fora do cargo, declarou nesta semana que “vamos ter de enviar mais armas para a Ucrânia. Armas defensivas, eles têm de se defender”. Ao dizer “vamos”, o ex-presidente incluiu aliados europeus no esforço. Segundo relatos, Trump propôs que a Alemanha vendesse uma de suas baterias Patriot, com os custos divididos entre EUA e Europa.
A Alemanha atualmente possui nove sistemas Patriot ativos. Três deles já foram entregues à Ucrânia desde o início do conflito, como parte dos pacotes de apoio fornecidos por Berlim. Isso coloca a Alemanha entre os principais apoiadores europeus da defesa aérea ucraniana, ao lado dos Estados Unidos.
O chanceler Merz não negou a proposta. Ao contrário, confirmou estar em “conversações intensas” com os EUA e outros parceiros para avaliar as opções de entrega de novos sistemas à Ucrânia. Uma alternativa seria a compra direta de baterias nos Estados Unidos, seguidas do repasse imediato a Kiev.
Por que o sistema Patriot é tão solicitado?
O sistema de defesa aérea Patriot (Phased Array Tracking Radar to Intercept on Target) foi desenvolvido nos Estados Unidos e tem capacidade de interceptar aeronaves, mísseis de cruzeiro e, principalmente, mísseis balísticos. Utiliza radares de varredura eletrônica e mísseis guiados por comando e radar ativo.
A principal vantagem do Patriot é sua taxa de acerto e confiabilidade em combate real. Ele já foi utilizado em teatros de guerra no Oriente Médio e em diversas simulações com sucesso.
Na guerra atual, ele se destaca por:
🔹 Interceptar mísseis balísticos a médias altitudes
🔹 Cobrir grandes áreas urbanas com um único sistema
🔹 Oferecer proteção em camadas, junto a outros sistemas de curto alcance
🔹 Utilizar interceptores PAC-3, com precisão cirúrgica
🔹 Ser compatível com redes integradas de defesa multinacional
O tempo de resposta entre o disparo e o impacto pode ser de segundos. A Ucrânia afirma que os Patriots já entregues salvaram milhares de vidas, ao interceptar mísseis que teriam atingido hospitais, escolas e usinas de energia.

Atrasos, gargalos e soluções alternativas
Mesmo com o reconhecimento global da eficácia do Patriot, o fornecimento de novas unidades enfrenta obstáculos. O primeiro é industrial: os Estados Unidos são o principal cliente do sistema, e toda nova produção atende primeiramente ao Pentágono.
Estima-se que um pedido novo leve até cinco anos para ser entregue. Por isso, a alternativa discutida entre Alemanha e EUA envolve a liberação de sistemas já prontos, mesmo que estejam atualmente em uso por forças da OTAN. Isso reduziria drasticamente o tempo de envio, o que pode ser decisivo diante da escalada dos ataques russos.
O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, propôs uma nova iniciativa no âmbito do Grupo de Contato de Ramstein. A proposta visa formar um fundo europeu para aquisição rápida de sistemas Patriot em uso ativo, ou a redistribuição estratégica entre países-membros da OTAN.
Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), existem cerca de 180 sistemas Patriot operando no mundo. Os EUA detêm a maioria, mas Europa, Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita também utilizam a tecnologia. Estima-se que a Europa, incluindo a Ucrânia, opere cerca de 40 desses sistemas atualmente.
O apelo da Ucrânia por mais defesa aérea
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, reforçou esta semana que a defesa aérea é a prioridade absoluta de seu governo. Após novo ataque russo com dezenas de mísseis, ele afirmou que “contamos fortemente com os nossos parceiros para cumprir o que foi acordado. A defesa aérea continua sendo a principal prioridade para a proteção de vidas”.
A Ucrânia vem tentando adquirir Patriots via parceiros europeus, já que uma compra direta aos EUA não é viável neste momento. Além do custo elevado, o país está fora da lista de prioridade dos contratos diretos do Pentágono.
Enquanto isso, civis e militares sofrem com as brechas no sistema de proteção. Embora a taxa de intercepção de mísseis russos esteja acima de 80% nas áreas cobertas pelos Patriots, outras regiões permanecem vulneráveis, sobretudo no leste e sul do país.
Quais são os próximos passos?
O chanceler Friedrich Merz planeja visitar Washington até o fim deste mês. Ele deve se reunir com autoridades norte-americanas para discutir prazos de entrega, custos de aquisição e coordenação logística. Paralelamente, a Alemanha avalia liberar um de seus próprios Patriots, desde que isso não afete sua capacidade defensiva.
O cenário se mostra dinâmico. Enquanto a ofensiva aérea russa ganha intensidade, as decisões políticas e militares do Ocidente precisam ser rápidas e eficazes. O envio de novos sistemas Patriot pode representar um ponto de virada importante na resistência ucraniana.
Caso a Alemanha avance com essa nova entrega, será mais um sinal de que a Europa está disposta a assumir protagonismo na proteção da Ucrânia, ainda que sob forte pressão orçamentária e logística.