Em uma sessão solene realizada na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (2), o rabino Yisroel Dovid Weiss fez um contundente discurso defendendo o fim do Estado de Israel, afirmando que a nação israelense é a “personificação e a definição mais clara do antissemitismo”. Sua declaração gerou discussões acaloradas e ressaltou as divisões políticas em torno do conflito entre Israel e Palestina. A sessão solene foi uma homenagem aos 77 anos da “Nakba”, um termo que se refere à limpeza étnica na Palestina ocorrida com a fundação do Estado de Israel.

(Foto: Kayo Magalhães /Câmara dos Deputados)
A Sessão Solene e a Homenagem à Nakba
A homenagem foi proposta por vários deputados do Partido dos Trabalhadores (PT), incluindo Lindbergh Farias (PT-RJ), Nilto Tatto (PT-SP), Odair Cunha (PT-MG), Paulo Pimenta (PT-RS), e Washington Quaquá (PT-RJ), entre outros. A Nakba, que significa “catástrofe” em árabe, é um termo utilizado pelos palestinos para descrever os eventos de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram deslocados de suas terras para dar lugar à criação do Estado de Israel.
Durante o evento, o rabino Yisroel Dovid Weiss, um líder espiritual judeu nascido nos Estados Unidos e conhecido pelo seu ativismo antissionista, fez duras críticas ao Estado de Israel, argumentando que a criação do país foi a principal causa do conflito contínuo na região. Weiss afirmou que a ocupação sionista da Palestina é a verdadeira causa do derramamento de sangue que afeta tanto árabes quanto judeus há mais de cem anos.
“A diferença de religião nunca foi causa de conflito. A ocupação sionista da Palestina é a causa principal do derramamento de sangue trágico e contínuo que ocorre há mais de cem anos tanto de árabes quanto de judeus”, disse o rabino, que também defendeu que ser contra o Estado de Israel não é ser contra os judeus. Para ele, a criação do Estado de Israel representou não apenas a ocupação da Palestina, mas também a instrumentalização do judaísmo para justificar práticas políticas e militares violentas.
O Ativismo Antissionista e as Polêmicas do Discurso
Weiss, em seu discurso, destacou a ideia de que o Estado de Israel não representa os interesses dos judeus, mas sim os interesses de uma política imperialista que tem alimentado a violência no Oriente Médio. Ele afirmou que, ao agir em nome de todos os judeus, Israel acaba fomentando o ódio contra a própria comunidade judaica. Segundo Weiss, a existência de Israel como uma entidade política representa uma “farsa” que agrava ainda mais a situação na região e promove a violência contra o povo palestino.
Ao final de sua fala, o rabino pediu o fim do Estado de Israel e a libertação da Palestina e da Faixa de Gaza, regiões que, segundo ele, continuam sendo alvos dos ataques israelenses, resultando em milhares de mortos e feridos, com mais de 55 mil mortos, conforme estimativas do Ministério da Saúde do governo Palestino. Este tipo de discurso é comum entre os ativistas antissionistas, que se opõem ao Estado de Israel por sua política de ocupação e suas ações militares em Gaza.

A Participação dos Deputados do PT e os Simbolismos da Sessão
Durante a sessão, além do rabino Yisroel Dovid Weiss, o ativista brasileiro Thiago Ávila, que participou de uma missão humanitária interceptada por Israel no mês anterior, também esteve presente. Ávila, junto com outros parlamentares, usou símbolos da bandeira palestina, como o “keffiyeh” (lenço tradicional palestino), em apoio à causa palestina. O uso desses símbolos é uma maneira de mostrar solidariedade com o povo palestino e protestar contra as ações militares israelenses na região.
A escolha da data e o tom do evento refletem uma posição política clara dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), que tem se mostrado crítico às ações militares de Israel, especialmente em relação ao conflito com a Palestina e a situação humanitária em Gaza. A presença de figuras políticas e ativistas que se alinham com a causa palestina gerou debates sobre a postura do Brasil em relação ao Oriente Médio e a sua política externa.
Tensão entre o Governo Brasileiro e Israel
O evento na Câmara dos Deputados ocorre em um momento de crescente tensão entre o Brasil e Israel. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de críticas por parte do governo israelense, especialmente após suas declarações sobre as ações militares de Israel em Gaza. Na semana passada, o presidente brasileiro não promulgou uma lei que definiria o “Dia da Amizade entre Brasil e Israel”, deixando a tarefa para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Esse episódio foi visto por muitos como uma manifestação de distanciamento das relações diplomáticas entre os dois países.
Além disso, no início de junho, a embaixada de Israel em Brasília publicou uma nota criticando duramente as declarações de Lula sobre os ataques israelenses em Gaza. A nota afirmou que o Brasil e outras autoridades internacionais “compram mentiras” propagadas pelo Hamas, e que, por isso, condenam as ações de Israel. Embora o comunicado não tenha mencionado explicitamente o nome de Lula, foi claro no contexto das críticas à postura do governo brasileiro.
Essa tensão bilateral é um reflexo das profundas divisões internas no Brasil sobre a política externa, especialmente em relação ao Oriente Médio. A posição adotada por setores do PT, apoiando a Palestina e criticando as ações de Israel, encontra resistência de outros grupos políticos que defendem uma postura mais alinhada com os interesses de Israel.
O Desafio da Política Externa Brasileira
O debate sobre a relação do Brasil com Israel coloca o país em uma posição delicada no cenário internacional. O Brasil, historicamente, tem buscado uma política externa de diálogo e cooperação com diversas nações, incluindo Israel e países árabes. No entanto, a situação atual exige uma abordagem mais estratégica, considerando os interesses globais, as alianças diplomáticas e o impacto das decisões políticas sobre a imagem do país.
A postura crítica do Brasil em relação a Israel pode afetar suas relações com outros países do Oriente Médio, além de complicar suas interações com potências ocidentais que têm sido parceiras históricas de Israel, como os Estados Unidos. A pressão política interna e as tensões externas exigem uma reavaliação das prioridades e das estratégias diplomáticas do Brasil.
POR: MSN Notícias/Estadão