O Índice Global da Paz 2025, realizado anualmente pelo Institute for Economics & Peace (IEP), revela que o Brasil continua a apresentar desempenho negativo quando comparado a outros países em termos de segurança e estabilidade interna. O levantamento, que classifica 163 países com base em 23 indicadores, coloca o Brasil na 130ª posição, uma queda significativa de 27 posições desde 2015, quando o país estava no 103º lugar. Embora tenha subido uma posição em relação ao ano anterior (2024), o Brasil ainda está entre os países com pior desempenho, especialmente no que diz respeito à gestão da segurança e proteção social.
Este artigo explora as razões por trás da queda do Brasil no índice, as implicações para sua segurança nacional e a posição do país em comparação com outros da América Latina e do mundo, analisando os principais fatores que contribuem para a crescente violência e instabilidade no país.
O Índice Global da Paz: O que ele revela?
O Índice Global da Paz (GPI) avalia a paz de um país com base em três pilares principais: nível de segurança social, conflitos internos e externos e o grau de militarização. Cada pilar é analisado com base em um conjunto de indicadores que abrangem desde a criminalidade e corrupção até o envolvimento do país em conflitos armados e a presença de forças militares no controle da sociedade. O objetivo do índice é proporcionar uma visão global sobre os fatores que influenciam a paz, permitindo comparações entre países e monitoramento de tendências a longo prazo.
Em 2025, o Brasil ocupa a 130ª posição, refletindo um quadro de queda contínua no que diz respeito à segurança interna e à fragilidade institucional. O país apresenta uma combinação de fatores negativos, como altos índices de violência, a presença de facções criminosas no território e uma crise econômica que contribui para o aumento das tensões sociais.
A gestão da segurança social e os desafios para o Brasil
Um dos pontos mais críticos para o Brasil no Índice Global da Paz é sua gestão da segurança social. O país ocupa a 149ª posição neste quesito, um reflexo da incapacidade do Estado de garantir a proteção da população e de implementar políticas públicas eficazes para a redução da violência. A criminalidade continua em níveis alarmantes, com destaque para os assassinatos, que atingem principalmente as classes mais vulneráveis da sociedade.
A violência no Brasil é um dos maiores desafios enfrentados pelas forças de segurança, que lidam com falta de recursos, treinamento inadequado e uma corrupção institucionalizada. Além disso, o narcotráfico, as gangues e as facções criminosas continuam a ter uma presença forte em várias regiões do país, o que dificulta a estabilização e a paz social. Os conflitos urbanos, especialmente nas grandes cidades, são um reflexo direto da incapacidade do Estado de impor a ordem e garantir a segurança básica para os cidadãos.
A violência, muitas vezes exacerbada pela pobreza, o desemprego e a desigualdade social, contribui para a perpetuação de um ciclo de insegurança que afeta diretamente a vida das pessoas. A falta de educação de qualidade e o acesso restrito a serviços básicos também são fatores que alimentam a tensão social, resultando em protestos, ocupações e confrontos com a polícia.
O impacto da política externa e dos conflitos internos
Embora o Brasil esteja distante de ser diretamente envolvido em grandes conflitos militares externos, sua política externa tem sido afetada pela instabilidade interna. O país já foi um líder regional em diplomacia e, durante anos, buscou se posicionar como um mediador de conflitos internacionais. No entanto, as tensões internas e a crescente violência dificultam sua projeção no cenário global como uma potência pacificadora.
A presença de milícias e facções armadas em várias áreas do Brasil tem levado a um aumento no nível de militarização dentro do país. As forças armadas e as polícias militares têm sido usadas cada vez mais para controlar a violência urbana, o que eleva o índice de militarização e pode prejudicar a liberdade civil. A atuação das forças de segurança em comunidades pobres e marginalizadas, muitas vezes com uso excessivo de força, contribui para a violação de direitos humanos, o que também impacta negativamente o desempenho do Brasil no índice de paz.
Além disso, a instabilidade política e os conflitos internos entre facções políticas têm gerado um cenário de polarização social, o que contribui para a falta de confiança nas instituições e a fragilidade do Estado. A crise política e a polarização ideológica têm enfraquecido a governança, tornando mais difícil o avanço em áreas chave como segurança, justiça social e recuperação econômica.
A posição do Brasil em comparação com outros países da América Latina
Quando comparado com outros países da América Latina, o Brasil ocupa uma posição preocupante. A Colômbia, que durante anos enfrentou um longo conflito armado interno, atualmente está na 140ª posição, o que a coloca em uma situação pior do que o Brasil. No entanto, é importante notar que, apesar de ser um dos países mais violentos da região, a Colômbia tem feito progressos significativos em termos de paz e estabilidade nos últimos anos, o que é refletido em sua melhoria no Índice Global da Paz.
Por outro lado, Cuba e Venezuela também apresentam resultados negativos no índice de 2025. Cuba ocupa a 102ª posição, uma queda em relação ao ano anterior, enquanto a Venezuela permanece entre os piores classificados, apesar de uma leve melhora. A Venezuela continua sendo um dos países mais afetados pela crise humanitária, com altos índices de emigração forçada e deslocamento interno devido à escassez de recursos e à falta de governança eficaz.
É importante observar que, apesar da América do Sul ter mostrado uma leve melhora geral no índice de 2025, a instabilidade política e a violência em muitos países da região ainda são obstáculos significativos para a construção de uma paz duradoura. O Brasil, com sua grande população e desafios estruturais, continua sendo um dos países mais vulneráveis a essas dinâmicas.

Fatores que afetam a paz no Brasil e as perspectivas futuras
O cenário de instabilidade no Brasil é alimentado por uma combinação de fatores econômicos, sociais e políticos. A estagnação econômica, o aumento da dívida pública e o desemprego crescente são elementos que contribuem diretamente para a fragilidade social, criando um ambiente propenso ao descontrole da violência. Além disso, a polarização política e a falta de um consenso social sobre questões chave, como segurança, saúde e educação, só agravam a situação.
O Brasil ainda enfrenta grandes desafios para alcançar um nível sustentável de paz. A reforma da segurança pública, o fortalecimento das instituições democráticas e o combate à desigualdade social são essenciais para que o país possa melhorar sua posição no Índice Global da Paz e evitar um futuro de maior militarização e conflitos internos.
A presença de movimentos sociais e a resiliência das comunidades são fatores importantes para a mobilização popular em busca de paz social. No entanto, a ausência de diálogo político e a falta de responsabilidade das elites governamentais podem dificultar os esforços de reconciliação e reconstrução nacional.