O estado do Rio Grande do Sul enfrenta novamente uma grave crise provocada por cheias que afetam mais de uma centena de municípios. A elevação dos níveis dos rios, especialmente do Rio Guaíba, tem causado inundações que colocam em risco milhares de famílias. Frente a esse cenário emergencial, a Marinha do Brasil foi acionada para atuar nas operações de busca, resgate e apoio à população atingida, integrando uma força-tarefa que inclui a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Brigada Militar.
A ação coordenada tem como objetivo garantir a segurança da navegação, auxiliar na retirada de moradores das áreas alagadas e reforçar o atendimento humanitário nos abrigos. Mais do que uma mobilização logística, a participação das Forças Armadas revela a importância da cooperação militar em desastres naturais, sobretudo em situações em que a infraestrutura civil está comprometida.
Ações emergenciais da Marinha em Porto Alegre e arredores
A Capitania Fluvial de Porto Alegre (CFPA), subordinada ao Comando do 5º Distrito Naval, lidera os esforços da Marinha do Brasil na capital gaúcha e em regiões adjacentes. Em operação contínua desde o início da crise, militares especializados têm atuado diretamente nas áreas alagadas, empregando embarcações de pequeno porte para navegar em locais de difícil acesso.
No sábado (21), pelo menos 20 pessoas foram resgatadas em áreas críticas e levadas para casas de parentes. Já no domingo (22), a força-tarefa percorreu a região do Braço Norte da Ilha dos Marinheiros, com ações de busca ativa porta a porta, oferecendo abrigo e assistência municipal. A missão contou com a presença de militares capacitados para atuar em ambientes fluviais urbanos, o que garantiu rapidez e segurança nas abordagens.
Segundo o Capitão de Mar e Guerra Flávio Firmino dos Santos, comandante da CFPA, a Marinha também participou de reuniões com a comunidade e autoridades locais, como a realizada na sede da Colônia de Pescadores Z-5, na Ilha da Pintada. Esses encontros serviram para repassar orientações e monitorar os índices pluviométricos, que na semana anterior superaram os níveis históricos esperados para a estação.
O oficial destacou que, apesar da gravidade da situação, o Guaíba apresenta tendência de estabilização. Ainda assim, a Marinha mantém o monitoramento constante da segurança da navegação, garantindo que as embarcações da região operem com segurança e sem restrições adicionais. O trabalho também inclui patrulhamento em áreas onde o risco de acidentes náuticos aumentou devido ao volume de água e aos obstáculos urbanos submersos.
Números da tragédia e operação de acolhimento
De acordo com o boletim mais recente do governo estadual, divulgado em 22 de junho, 127 municípios foram impactados pelas chuvas. Jaguari decretou estado de calamidade pública e outras 21 cidades estão em situação de emergência. Até o momento, há 5.958 pessoas desalojadas, 733 resgatadas, quatro mortes confirmadas e um desaparecido. Além das vidas humanas, ao menos 139 animais domésticos foram retirados das áreas alagadas por equipes de resgate.
Para oferecer acolhimento digno às vítimas, a Prefeitura de Porto Alegre mantém abrigos emergenciais, como o instalado na Arena KTO, na Zona Norte da capital. Na manhã de domingo, 53 pessoas — entre adultos e crianças — estavam abrigadas no local, que também recebeu quatro animais de estimação. As famílias são oriundas de diversas áreas críticas, incluindo os bairros Humaitá, Farrapos e as ilhas da capital.
A assistência nos abrigos inclui alimentação, atendimento médico, apoio psicológico, cuidados veterinários e suporte social. Segundo o Secretário Executivo da Defesa Civil de Porto Alegre, Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior, os serviços essenciais — como água potável e energia elétrica — permanecem funcionando em boa parte das regiões atingidas, o que contribui para a manutenção da ordem pública e da saúde coletiva.
Mesmo com o alívio parcial no nível das águas, a Prefeitura afirma que as operações continuarão enquanto houver risco à população, reforçando a importância do suporte militar e civil integrado. As ações em andamento também buscam mitigar os impactos sociais e econômicos deixados pela destruição das residências e infraestrutura urbana.

Situação dos rios e estratégias de alerta antecipado
O monitoramento hidrológico é uma ferramenta essencial em eventos como o que ocorre no Rio Grande do Sul. Segundo o Instituto de Meteorologia MetSul, esta já é considerada a terceira maior enchente da história da região central do estado. Os dados mais recentes apontam que o volume de água nos principais rios permanece elevado, colocando em risco áreas urbanas e rurais.
Rios como o Uruguai, Ibirapuitã, Ibicuí e Jacuí ultrapassaram a cota de inundação, especialmente entre São Borja, Uruguaiana, Alegrete e Cachoeira do Sul. Já os rios Guaíba, Caí e Gravataí estão em estado de alerta, com a possibilidade de novas elevações nos próximos dias, dependendo do regime de chuvas. Algumas áreas, como o delta do Jacuí e as ilhas metropolitanas de Porto Alegre, permanecem sob atenção especial.
Diante desse cenário, a Defesa Civil estadual intensificou sua campanha de alertas preventivos por SMS e WhatsApp. O serviço permite que qualquer cidadão receba notificações em tempo real sobre riscos de alagamento e orientações de evacuação. Basta enviar o número do CEP para o 40199 ou se registrar via WhatsApp no número (61) 2034-4611.
Esses alertas são fundamentais para salvar vidas e direcionar ações de emergência com antecedência. A população pode, inclusive, compartilhar localizações específicas com a central de atendimento para receber informações customizadas. Essa estratégia de comunicação, associada ao trabalho técnico das forças armadas e civis, cria uma rede de proteção eficiente em momentos de crise.
Além disso, os dados meteorológicos vêm sendo constantemente cruzados com informações do sistema de barragens e comportas. Técnicos do Instituto de Recursos Hídricos acompanham em tempo real o comportamento dos reservatórios, para reduzir os riscos de rompimentos e inundações bruscas. A troca de dados entre instituições militares, civis e científicas permite o desenvolvimento de planos de contingência mais robustos.
O envolvimento da Marinha do Brasil nesse tipo de operação reforça o papel das Forças Armadas como agente de apoio à defesa civil e à segurança da população em situações extremas. Sua capacidade logística, disciplina e preparo técnico fazem a diferença em cenários de difícil acesso e alto risco. A atuação conjunta entre setores militares e civis é o caminho mais eficaz para enfrentar desastres naturais com coordenação, eficiência e sensibilidade social.
POR: Agência GOV