Em uma ação sem precedentes no Brasil, a Polícia Federal, em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil, conseguiu apreender uma embarcação semissubmersível usada para o tráfico internacional de drogas na Ilha do Marajó, no Pará. Considerado um dos métodos mais sofisticados do crime organizado para o transporte ilegal, esse tipo de submarino artesanal tinha como destino o continente europeu. Essa operação marca um importante avanço na luta contra o narcotráfico no país.
Tecnologia furtiva e logística complexa dos submarinos artesanais
Os chamados “submarinos do tráfico” são embarcações construídas de forma clandestina, geralmente em áreas remotas da floresta amazônica. Eles são feitos com materiais compostos que oferecem baixa assinatura térmica e visual, permitindo que naveguem praticamente à tona, a poucos centímetros da linha d’água. Essa característica torna-os quase invisíveis aos radares convencionais, dificultando o seu monitoramento pelas autoridades.
Além da estrutura furtiva, esses veículos contam com sistemas avançados, como ventilação interna para garantir a sobrevivência da tripulação, motores potentes que asseguram velocidade e autonomia, e compartimentos para transportar grandes volumes de cocaína — muitas vezes toneladas. A rota desse submarino começa nos rios da Amazônia, segue até o oceano Atlântico, onde a droga é transferida para navios maiores que completam o trajeto até a Europa.
Fontes da investigação indicam que a construção de um submarino artesanal pode custar até 2 milhões de reais, e sua operação depende de tripulantes treinados, que frequentemente atuam sob coação de facções criminosas. Essa combinação de tecnologia, logística e violência mostra a complexidade que o combate ao tráfico enfrenta.

A Amazônia como palco estratégico do narcotráfico
A apreensão no Marajó revela que a região amazônica não é apenas um espaço natural, mas também um ponto estratégico para o crime organizado. A floresta e seus rios funcionam como plataforma para a montagem, armazenamento e lançamento dessas embarcações clandestinas. Essa realidade traz impactos diretos para as comunidades locais, que ficam expostas à violência, ao recrutamento por grupos criminosos e ao enfraquecimento das instituições públicas.
Além dos efeitos sociais, há um agravante ambiental. A construção desses veículos e as operações criminosas associadas geram degradação da vegetação nativa, poluição dos rios e dificultam a atuação do Estado na região. O combate eficaz a essas práticas exige mais do que ações pontuais: é necessária a presença constante do Estado, com políticas de desenvolvimento regional e estratégias integradas de segurança.
Cooperação internacional no enfrentamento ao crime transnacional
A operação que resultou na captura do submarino foi possível graças à cooperação entre diversas agências internacionais, como a DEA dos Estados Unidos, a Polícia Nacional da Espanha e a Polícia Judiciária de Portugal. Essa integração permitiu identificar conexões entre a embarcação apreendida no Pará e outra encontrada em águas portuguesas, demonstrando a extensão global das redes criminosas.
O trabalho conjunto mostra a importância da troca de informações e ações coordenadas para rastrear rotas de tráfico, desarticular redes financeiras e impedir a construção de novas embarcações clandestinas no Brasil. A Polícia Federal tem investido em inteligência avançada e missões integradas para reforçar o combate ao narcotráfico em território nacional.
Essa operação é um exemplo claro da resposta brasileira às ameaças globais do crime organizado, que exige esforço constante, tecnologia e união entre diferentes forças e países para preservar a segurança e a soberania nacional.