Em depoimento prestado à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 30, o general da reserva Gustavo Henrique Dutra afirmou que, na véspera dos ataques golpistas de 8 de janeiro, o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, era composto majoritariamente por pessoas em situação de rua. A declaração busca esclarecer a composição do grupo que permaneceu no local pouco antes dos acontecimentos que abalaram as instituições brasileiras.
Encontro informal entre general Dutra e secretário Anderson Torres
O general Dutra relatou ter se encontrado com o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, no dia 6 de janeiro, dois dias antes da invasão às sedes dos Três Poderes. Segundo o militar, o encontro teve caráter informal, sendo descrito como um “cafezinho de cortesia”, no qual foram apresentadas informações sobre o acampamento.
Durante a reunião, Dutra exibiu fotos que mostravam a desmobilização do acampamento e destacou que a maioria dos presentes eram indivíduos em situação de vulnerabilidade social. Para tratar dessas questões, ele acionou a secretária de Desenvolvimento Social do Distrito Federal, Ana Paula Marra, com o objetivo de organizar o atendimento às pessoas que ainda permaneciam no local.
O depoimento do general visa reforçar a defesa de Anderson Torres, que argumenta não ter havido indicativos claros de risco na data de sua viagem — que ocorreu justamente em 6 de janeiro.
Discrepâncias e movimentações no acampamento
Apesar da versão apresentada por Dutra, outras testemunhas ouvidas pelo STF indicam que o acampamento não era formado exclusivamente por moradores de rua. Essas declarações apontam para a chegada de ônibus a Brasília durante a madrugada do dia 7, com a intenção de retomar os protestos que antecederam os ataques.
A ausência de registro formal da reunião entre o general e o secretário não diminui a relevância das informações compartilhadas, que ressaltam o aspecto social da ocupação do QG do Exército. Ana Paula Marra, também ouvida no processo, confirmou que seu chamado foi para organizar o acolhimento dos presentes, mas revelou que também houve discussões sobre a possibilidade de mandados de prisão contra líderes do acampamento.
Essa dualidade entre preocupação social e medidas de segurança reflete o complexo ambiente que permeava o local e o momento, deixando claro que a situação exigia atenção e ação coordenada das autoridades.

Contexto dos ataques golpistas de 8 de janeiro
Os ataques de 8 de janeiro representaram uma das maiores crises institucionais recentes no Brasil, com invasões às sedes dos Três Poderes por manifestantes contrários ao resultado eleitoral. O acampamento no QG do Exército funcionou como um ponto estratégico e simbólico durante os dias que antecederam os ataques, tornando-se foco de investigações e debates.
As declarações do general Dutra e demais testemunhas contribuem para o esclarecimento dos fatos, ajudando a compreender o ambiente político e social que antecedeu os eventos e as ações tomadas pelas autoridades em meio à tensão.
Implicações para a segurança pública e investigações
O depoimento reforça a complexidade das operações de segurança pública em situações de mobilizações sociais e políticas. O desafio de diferenciar entre manifestações pacíficas, grupos vulneráveis e possíveis ações de risco exige protocolos claros e comunicação eficiente entre as áreas de segurança e assistência social.
A participação da secretária de Desenvolvimento Social indica que o Estado buscava mitigar riscos humanitários ao mesmo tempo em que monitorava possíveis ameaças, demonstrando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar.
Desdobramentos jurídicos e políticos
O processo no STF continua a coletar depoimentos e evidências para avaliar responsabilidades e circunstâncias relacionadas aos ataques e às ações preparatórias. A versão apresentada pelo general pode influenciar o entendimento sobre o comportamento das forças de segurança e do governo local nos dias que precederam a crise.
Ao mesmo tempo, o debate público sobre o episódio reforça a importância da transparência, da proteção dos direitos sociais e da garantia da ordem pública, buscando evitar novos episódios de violência e instabilidade.